segunda-feira, 21 de novembro de 2011

AVA GARDNER


























































































Por Angus MacSwan
SÃO PAULO (Reuters) - O que a lendária estrela de cinema Ava Gardner e o líder cubano Fidel Castro fizeram para encontrar-se em Havana nos primeiros dias da revolução cubana? E o que a atriz fez que tanto incomodou o líder argentino Juan Perón?
Uma nova biografia de Ava Gardner, "Love is Nothing" (O amor não é nada), de Lee Server, revela detalhes sobre alguns encontros divertidos entre a atriz tempestuosa e os homens fortes latino-americanos.
Gardner visitou Cuba na fase pré-revolucionária e em algumas ocasiões se hospedou na casa do escritor Ernest Hemingway, nos arredores de Havana, onde os banhos de piscina que tomava nua ficaram famosos. A atriz voltou a Havana no verão de 1959, após a vitória de Fidel Castro.
"Ava era fascinada pelas histórias e fotos do carismático libertador barbudo de Cuba. E o comandante sentia interesse semelhante pela estrela de filmes americanos", escreveu Server.
Os dois se encontraram e Fidel levou Gardner numa visita turística a seu quartel-general, no hotel Hilton de Havana. Eles tomaram uma "cuba libre" sentados no balcão do hotel, com vista para a cidade. Castro lhe contou sobre a revolução e sobre seus sonhos para o futuro de Cuba.
Fidel a impressionou muito, apesar de usar meias diferentes em cada pé. Ava lhe perguntou se ele odiava os norte-americanos, e Fidel respondeu que odiava apenas Richard Nixon.
Ao que parece, a atriz, que era conhecida por sua vida amorosa fogosa, incomodou a tradutora de Fidel Castro, Ilona Marita Lorenz, de 19 anos. Lorenz achava que Gardner perseguia Fidel e disse ter interceptado bilhetes da atriz endereçados a ele.
As duas mulheres tiveram uma discussão no saguão do Hotel Nacional. Gardner deu um tapa em Lorenz no elevador, e um agente de segurança cubano sacou sua arma para restaurar a ordem.
Fidel pôs fim aos encontros com Gardner, e, de acordo com o livro, ela encontrou consolo nos braços de um de seus colaboradores.
EMPANADAS COM O CASAL PERÓN
Exilado da Argentina após um golpe de Estado em 1955, Juan Perón mudou-se para Madri em 1960 com sua noiva, Isabel. Gardner já vivia na capital espanhola havia muito tempo e era dona do apartamento em cima do de Perón, num edifício da Praça Argentina.
De acordo com Server, Perón admirava a atriz havia muito tempo. Ela não era partidária da política dele, mas tentou ser amável.
"Isabel prepara empanadas deliciosas, e Ava de vez em quando descia para comê-las na cozinha dos Perón, enquanto Isabel se sentava e conversava, sem ciúmes, sobre como a falecida Evita ainda era a mulher mais importante na vida de seu marido", conta o livro.
A relação de boa vizinhança azedou quando os Perón se queixaram das barulhentas festas de flamenco promovidas pela atriz, que duravam a noite toda.
"Ava disse que ele com frequência saía para o balcão e fazia discursos para uma imaginária multidão de partidários e que ela e sua empregada saíam para sua própria varanda, como provocadoras, e gritavam 'Perón é um maricas"', relata o livro.
Ava Gardner, que estrelou filmes como "As Neves do Kilimanjaro" e "A Noite do Iguana", morreu em Londres em 1990, aos 67 anos. Perón faleceu em 1974, com 78 anos de idade. Fidel Castro vai completar 80 anos em agosto.
BRASIL
O livro também relata a malfadada viagem de Ava Gardner ao Rio de Janeiro em 1954 para divulgar o filme "A Condessa Descalça".
Foi pouco após o suicídio do presidente Getúlio Vargas, e os agentes da atriz temiam que uma revolução pudesse eclodir no país.
Mas o tumulto que de fato ocorreu foi de natureza diferente. Quando Gardner chegou ao aeroporto do Rio, a multidão que a aguardava quebrou a barreira policial e invadiu a pista. Quando a atriz finalmente conseguiu chegar a um táxi, o carro não conseguiu partir, então, segundo o livro, ela bateu na cabeça do motorista com seu sapato.
Em seguida, ela não gostou do hotel a que foi enviada e exigiu hospedar-se no Copacabana Palace Hotel, mais elegante. Numa discussão com o gerente do primeiro hotel, bebidas foram atiradas no chão, e segundo notícias que chegaram à imprensa ela teria quebrado objetos no hotel.
Gardner decidiu encurtar sua viagem e permaneceu fechada em sua suíte no Copa. Mas, em sua última noite no Brasil, ela saiu às escondidas, depois da meia-noite, e fez uma tour pela cidade, incluindo suas favelas, e terminou assistindo ao nascer do sol na praia.



Por Ricardo Steil
TUDO SOBRE AVA GARDNER - Parte 1

“Ava Gardner é mais que uma estrela...
Mais que um mito...
Mais que um rosto bonito na grande tela...

É glamour de uma década
Em forma de mulher”
Ava — Ricardo Steil

Ficha Completa

Nome artístico: Ava Gardner
Nome de bastismo: Ava Lavinia Gardner
Nascimento e local: 24/12/1922 — Grabtown, Carolina do Norte, EUA
Falecimento e local: 25/01/1990 — no seu apartamento em Ennismore Gardens, Knightsbridge, Londres (pneumonia)
Ocupação: atriz (teve incursões como cantora)
Exerceu atividades: 1941 — 1982 (Cinema) — 1985 — 1986 (Televisão)
Nacionalidade: Americana
Casamentos: Mickey Rooney (1942 — 1943)
                      Artie Shaw (1945 — 1946)
                      Frank Sinatra (1951 — 1957)
Melhores amigos dos tempos de infância: Al Creech (sobrinho) e Shine (ao qual ela chamava carinhosamente de “meu irmão preto”. Em sua biografia confessou que Shine fora seu melhor amigo de toda a vida.
Artista preferido: Clark Gable
Livro preferido: ...E O Vento Levou



Os primeiros anos
Eram vinte e duas horas — quando um choro audível se fez na humilde casa. Uma linda menina nascera — pouco antes do Natal. Mary Elizabeth e Jonas — ela do lar, o cônjuge um agricultor que trabalhava em terras de outrem — jamais poderiam imaginar que aquele pequeno anjo — o sétimo da prole —, seria mais do que uma criança qualquer nascida em Grabtown. Nos braços daquela sofrida mulher — braços que outrora seguraram o primogênito todo deformado após um acidente horrível que lhe tirara a vida aos dois anos, dois meses e quinze dias — naqueles braços estava uma das mais talentosas mulheres a preencherem o espaço que constitui a grande tela e, que anos depois seria definido pelo poeta Jean Cocteau como “o mais belo animal do mundo”.
Naquela noite fria — nevava e muito — os pais a cobriram — incluindo a cabeça, visto não ter pelugem alguma. Algo que, também levaria anos para aparecer — com o melhor que tinham — isto é, com uma das poucas mantas. Os irmãos — liberados para entrar no quarto — rodeavam curiosos. E Ava Gardner sentiu fome. Chorou implorando pelo alimento. Depois farta — fechou os olhos pela primeira vez.
Como seu aniversário era na véspera do nascimento de Cristo — e por serem muito pobres —, não era possível presentear duas vezes a criança— uma, na verdade, já era algo raro. E a pequena Ava — que recebera este nome em homenagem a tia-paterna que vivia com eles — tinha que se contentar com o que os pais podiam lhe dar: um bolo de chocolate pela passagem da sua data natalícia e um de coco no dia seguinte.
A menina do interior gostava de liberdade, de correr livre por entre as plantações de tabaco. Subir em árvores. E mais que tudo, odiava sapatos. Sua alegria era sentir o chão embaixo dos pés, o córrego do rio, a grama.
Era temida entre os garotos: craque nas bolinhas de gude, ninguém apostava “a vera” com a pequena dos Gardner. Isto é, alguns forasteiros surgiam vez por outra, como nos filmes, querendo derrotar aquela menina — agora cabeluda. Ava apenas sorria. Abriam a boca na gorda terra para dar início — os amigos, vizinhos e outros, uniam-se sobre o manto da platéia. No fim da tarde, enquanto o sol desaparecia no horizonte, lá iam aqueles com os bolsos vazios e levando consigo a lenda de que “lá pras bandas de Grabtown há uma caipirazinha que é boa de gude”.
E era quando a noite surgia que a futura estrela sentia-se feliz. Sempre fora assim: a noite era sua companheira inseparável. Gostava de dormir tarde — gostava das estrelas e da lua cheia, do coaxar dos sapos, dos grilos lá longe.
Mas, a verdade é que, por mais clara que sejam as colunas do templo, sempre haverá sombras por trás destes. Eis que um dia as sombras surgem. Jack — um dos irmãos da futura diva —, escondera-se no celeiro de tabaco da família no intuito de fumar. O fósforo que segurava caiu. Resultado: o incêndio destruíra o celeiro e o descaroçador que eram fonte de renda do velho Jonas Gardner. Não houve jeito, vivendo dias difíceis, tiveram que partir para um lugar estranho chamado Teacherage em Brodgen, onde Elizabeth poderia cozinhar para diversas pessoas — muitos professores — e obter algum dinheiro para o sustento da família ao lado do marido.
Nesta época, Ava descobrira que possuía outro talento além de ser ótima jogadora de gude: o de passar roupas como ninguém.
Os dias estavam melhores para família. Sobrava um dinheirinho. Então, a senhora Gardner podia desfrutar de algo pelo qual se apaixonara: o cinema. Só que havia um porém, ela detestava ir sozinha. E quem era a escolhida para ir com mamãe ver aquelas maravilhosas películas? A peralta Ava — graças a Deus!
Era muito, mas muito chão mesmo para chegar na cidade mais próxima: Smithfield. Só que compensava. Lá era outro mundo: havia uma capa escura que recobria as ruas de barro, ao qual dava-se o nome de asfalto. Uns bichos estranhos que andavam mais rápido que os cavalos das redondezas chamados de: automóveis. E claro, o que mais intrigava os membros da família: luz elétrica. Tudo era claro à noite! Então quando voltava para Teacherage, miss Gardner contava aos amigos sobre todas “aquelas coisas estranhas e maravilhosas”.
Os dias corriam tranqüilos. A jovem estrela ajudava seu pai e outros na plantação de tabaco. Tudo ia bem... mas, a quebra das bolsas, a depressão, jogou o país na falência. Elizabeth viu-se em apuros: os professores ao qual cozinhava, foram-se todos. Jonas mal conseguia vender alguma coisa. E Bappie — a irmã mais velha —, que estava casada há muitos anos deu a sentença: dera um chute no traseiro do marido que vivia atrás de tudo quanto é rabo de saia e de copos e copos de cerveja. É preciso recordar que naquele tempo, a palavra divórcio era humilhante. Bappie então parte para Nova York, encontrando a metrópole em frangalhos.
Passando necessidades, Elizabeth através de uma conhecida descobre que pode conseguir um trabalho similar na cidade de Newport News. Só que não era uma cidade rural, de modo que, o agricultor Jonas tinha que correr a procura de algo que pudesse fazer — logo ele, que mal sabia escrever o nome, tinha que aprender um ofício. E aquela tosse — contínua —, já não deixava mais ninguém dormir em casa.
Ava sentiu que algo que ruim estava a caminho — mal chegara na cidade, seu cachorro Prince fugira. E na escola era humilhada por alunos e professores: fosse por seu sotaque de “menina caipira”, fosse porque era filha de um agricultor numa cidade industrial, fosse porque só tinha um casaquinho velho que vestira ao longo de quatro anos e um par de sapatos que lhe importunavam, não por serem gastos, mas por cobrirem seus pés, que não estavam acostumados com paralelepípedos, moradas de alvenaria, o som ensurdecedor de buzinas e risos dos adolescentes.
Trabalhando para sustentar a casa, Elizabeth agora viúva, lutava por fazer da pequena Ava uma mulher decente. Criava a filha nos modos vitorianos: teria que casar virgem.
Uma amiga disse para a jovem estrela que um garoto estava afim de sair com ela — gostaria de levá-la ao cinema. Seu nome entraria para a história como o primeiro rapaz a sair com Ava Gardner. Eles não se beijaram, nem tocaram as mãos. E nervosa, ela sequer abriu a boca. Resultado Dick Alerton jamais a procurou novamente. Trouxa ele.
Aos dezessete, novo encontro: um jovem levara-a num baile. Há uma da manhã estavam ambos na varanda da casa de Ava. Então, um selinho ocorreu — o primeiro beijo da atriz —, uma coisa boba. Um leve tocar de lábios. Mas, quem estava atrás da porta? A matriarca que surgiu do nada, pôs o rapaz para correr, depois disse tanto para a garota que esta correu para seu quarto e esfregava freneticamente as mãos contra os lábios e rosto na esperança de se ver “limpa de toda aquela sujeira”.
Sorte dela que tinha amigas mais velhas que lhe explicavam o que ocorria com uma mulher, senão, teria chegado ao casamento pensando ainda como uma criança.

De caipira a starlet 
Bappie conseguira estabilidade na cidade de Nova York — tinha sua própria seção no departamento de bolsas de uma grande loja. E, arrumara um namorado canadense que fora embora.

O rapaz escrevia-lhe direto pedindo uma foto, pois, “estava morrendo de saudades”. No horário do almoço, Bappie resolve eternizar sua imagem no papel. Entra no Tarr Photographic Studios. Talvez fosse coincidência, quem sabe destino — se é que o destino não deixa de ser o acaso com mania de grandeza, como certa vez disse o poeta —, mas a jovem foi atendida por ninguém menos que Larry Tarr — filho do fundador. Conversaram, conversaram e conversaram. Resultado, Larry a pediu em namoro. Bappie de imediato aceitou. A foto nunca foi batida. E jamais o canadense soube que ela se casara dois meses após este encontro.

O esposo de Bappie tinha um desejo: construir seu próprio caminho longe da sombra do seu pai. Claro, o dinheiro vindo dos estúdios — junto com o salário de Bappie —, os mantinha razoavelmente bem. Mas, ele queria mais, sonhava em ser “um descobridor de talentos”. De modo que, vivia junto da esposa percorrendo todos os “points” possíveis da cidade de Nova York a procura do tal.

Com dezesseis anos, Ava foi visitar a irmã pela primeira vez. Logo o novo cunhado e ela simpatizaram-se. E claro, junto com Bappie, viraram noites e noites na “cidade que nunca dorme”.

O momento máximo destes dias foi quando ganhou da irmã um par de luvas brancas — ela nunca colocara aquilo —, e estando num belíssimo clube, com música ao vivo, sentados, a futura estrela olhou para o lado e quem estava ali acompanhado de uma bela garota: Henry Fonda! Sim, era ele! Henry Fonda o grande astro do cinema. Queria um autógrafo, mas, como chegar até ele, quer dizer “ele era um astro, um homem famoso” e ela... Larry e Bappie insistiram tanto que a pequena foi falar com Fonda. Nervosa e graças às luvas, deixou cair papel, caneta, bolsa e luvas no chão. Elegantemente — vendo a situação daquela menina com “sotaque caipira” —, o astro ajudou-a recolher tudo e deu um autógrafo, enquanto sua companhia fazia perguntas a jovem. Quando conseguiu o autografo, vendo-o, de tão nervosa disse apenas a acompanhante de Fonda: “você é uma garota adorável. Deveria ir para Hollywood”, e saiu correndo nervosa.

Sentou-se ainda anestesiada com o encontro. E iria ficar mais, quando soube o que o cunhado aprontara: vendo a banda tocar, pensou este, porque ao invés de um monte de caras cantando, não colocar uma bela garota. E quem era a bela garota na mente de Larry: Ava Gardner! O líder do grupo perguntou a Larry se ela cantava. Deveria ser brincadeira, claro que sim, ela era um rouxinol vindo da Carolina do Norte! Os garotos pensaram, porque não, afinal a beleza de miss Gardner destacava-se em meio a todo o clube. “Traga-nos uma gravação demo dela para analisarmos”.

Ava não sabia cantar — pelo menos, profissionalmente —, mas, entusiasmou-se com a idéia de tornar-se cantora de uma banda — bem, era melhor do que ser datilógrafa! Quando souberam no colégio que ela tornar-se-ia cantora de uma Big-band, as coisas começaram a mudar para melhor.

O cunhado também estava entusiasmado. Procurou uma gravadora onde pudesse eternizar a voz de diva que sabia apenas cantar Amapola.

Mas qual a surpresa quando o pianista perguntou onde estava a música. Ela não entendia que ele estava pedindo a partitura. O rapaz disse tudo bem, se ela dissesse pelo menos o tom. Gardner ficou rubra de vergonha, não sabia que as músicas tinham tons como as cores. O rapaz compreensivo sorriu. Seguiram em frente. Depois de algumas tentativas, o disquinho de 78 rotações com a voz de Gardner estava gravado.

Este disquinho caiu nas mãos dos garotos que se entusiasmaram — logo, mandariam-lhe o repertório. No colégio a reputação de Ava — antes de menina caipira ao qual todos implicavam — mudara repentinamente, ela era um sucesso! Ava Gardner cantora, excursionando pelos Estados Unidos, sucesso absoluto, uma Ella Fitzgerald! Tudo isso era um sonho na mente da menina... e continuou sendo um sonho, pois, jamais as letras das músicas prometidas vieram parar em suas mãos. O disquinho de 78 rotações também não.

Em sua biografia, relata a atriz: “Por coincidência, no entanto, voltei a encontrar aquele bandleader uma outra vez. Ele estava regendo uma orquestra num clube de Los Angeles uns oito ou nove anos depois e eu já era famosa no cinema. Ele foi muito agradável, na verdade ficou muito impressionado com o que tinha acontecido comigo. Logo ele que fora minha esperança um dia de mudar de vida, estava ali arrependido com sua infeliz falta de confiança no rouxinol da Carolina do Norte”.

Claro que a jovem ainda poderia mostrar seus dotes como cantora num futuro não muito longe — no hoje, clássico, The Killers —, todavia enquanto este dia não chegava sua vida prosseguia.

Larry não desanimou de seu sonho — há sempre pedras no caminho —, e continuava a procurar uma maneira de tornar-se um descobridor de talentos, empresário, qualquer coisa que não fosse somente ficar atrás de um balcão revelando e batendo fotos.

O engraçado de tudo é que, justamente o seu talento para fotografias e, que o faria realizar seu sonho de ser um descobridor de talentos. Larry brincando resolveu tirar algumas fotos da cunhada. E estas — obviamente — ficaram tão lindas que resolveu colocá-las no show room da Tarr Photographic Studios que ficava na Quinta Avenida, onde Barney Duhan — que trabalhava de boy para a Loews Inc. que era por sinal ligada a MGM — passava todos os dias. Duhan ficou de queixo caído com a fotografia. Espertinho ligou para o estúdio querendo o telefone da futura diva. Não que ele pudesse fazer algo por sua carreira, mas, iria dizer que sim para quem sabe, conseguir algo mais com a garota. No telefone disse: “Sou Barney Duhan, represento a MGM e, estamos interessados em uma de suas modelos para trabalhar em nossos estúdios. Poderia passar o telefone dela?”. A secretária de Larry — esperta que só — disse que “informações sobre seus clientes eram confidenciais”. De modo que, pôs fim aos sonhos de Barney — que acabou tornando-se um policial. Mas, contou tudo ao patrão que ficou entusiasmado. Ligou para Ava, desesperado: “Querida, querida, você não imagina o que aconteceu, a MGM está querendo você como uma das atrizes deles”. Gardner ainda sobre o efeito de ter sido renegada pela Bigband não deu muita importância. Todavia, oposto ocorreu com Larry que botou toda sua equipe para trabalhar: “Revelem tudo, todos os negativos, não deixem uma foto sequer sobrando nos arquivos!” Reunindo o material, rumou para filial de Nova York. Um teste foi marcado.

A pequena de Grabtown fez uma cena. O problema era aquele triste sotaque — naqueles dias, as atrizes não podiam ter sotaque algum. O que fez o diretor então? Mandou o tape totalmente mudo. Após breve análise, enviam um telegrama pedindo o comparecimento da futura diva em Hollywood. Em companhia de sua irmã Bappie, partem. No dia em que assina o contrato para ser uma starlet (figurinista), sua querida mãe descobre ter câncer. E o pior, já não o que se fazer.

Vivendo em Hollywood, a pequena Gardner tem que acordar as cinco da manhã, pegar três ônibus para chegar ao estúdio, receber a folha dizendo em que estúdio deverá estar e, passar por toda a série de maquilagem.

As pessoas riam do seu sotaque — imitavam-no. Ora, ela era apenas uma caipira. Mas, não fazia mal, precisavam apenas da fotogenia dela.

Tamanha fora às implicâncias — e depois de muitas, mas muitas lágrimas —, passa a freqüentar aulas de teoria vocal, locução e interpretação.

Certa manhã, ela precisou fazer fotos com outra starlet numa fazenda fake. As outras garotas estavam apavoradas com os bichos. Mas, “a caipirazinha” não. E, o próprio diretor fotográfico ficou espantado quando Ava tirou leite de uma vaca. “Uma starlet que tira leite de vaca, isso é maravilhoso”. Disse.

O trabalho de starlet fotográfica era intenso. Faziam mudanças e mudanças em seus cabelos. Ela nunca foi de reclamar. Mas, no dia em que resolveram que era preciso tirar suas sobrancelhas e refaze-las a lápis, a garota ficou furiosa. Fez uma briga tão grande, que mesmo o severo maquiador calou-se. No futuro, Lana Turner ao saber o que ocorrera com a amiga, riu muito: “Queria ter tido sua coragem” — disse. “Eles não deixaram um fio das minhas na época em que era starlet”.

O Primeiro Amor

Eles se conheceram logo de cara no primeiro dia em que ela pisou na MGM. Milton Weiss — responsável por apresentá-la ao local —, levou-a no último estúdio, onde estava sendo gravado “Calouros da Broadway”. Tanto Ava quanto Bappie controlaram-se para não gritar, quando viram ali, a poucos metros, ninguém menos que Judy Garland cantando! Deus, não era no cinema, ela tava ali ao vivo, toda aquela voz, toda aquela presença de palco! Mas, os olhos de Gardner se desviaram de Judy quando alguém esbarrou nela. De costas parecia ser Carmem Miranda — famosa àquela altura —, mas, quando aquela “baixinha” voltou-se para pedir desculpas, era Mickey Rooney — o ator mais famoso dos Estados Unidos naquele momento.
    — Desculpe-me. Machuquei a senhorita?
    — Não... não...
    — Senhorita Gardner, este é Mickey Rooney. Mickey esta é Ava Gardner futura estrela da MGM.
E assim, foi. Mickey apaixonou-se por Gardner, no mesmo instante. Conseguiu o telefone dela, ligando todo dia as vinte e duas horas. Ava — lembre-se, era uma menina do campo —, de modo que, sendo Rooney um cara famoso ou não, ela não sairia com ele, afinal era um desconhecido: “e uma garota não sai sozinha com um desconhecido”.
Todos os dias, Bappie dava ao futuro cunhado uma desculpa diferente. Estava trabalhando, dormindo, fazendo sei lá o que. Só que houve certa noite que Gardner teve que atender o telefone. Era hora de por um fim aquilo:
    — Agora ouça Mickey, minha irmã Bappie está aqui e não posso deixá-la sozinha.
Neste instante somente que ele percebeu que a menina era diferente do tipo de garota que ele estava acostumado a sair.
    — Quem sabe não a levamos junto, então?
E foi assim. Bappie foi velinha por muito, muito tempo. Rooney — conforme biografia da própria atriz —, a respeitou como devia.
Após um tempo, veio o pedido de casamento. Gardner sempre vinha com desculpas de que era jovem. Enfim, aceitou. A futura senhora Rooney conheceu sua sogra, deram-se bem. Depois, houve a reunião da família Gardner para conhecer o futuro membro. Nas memórias da atriz, fora aquele um dos momentos mais felizes da sua mãe, que adorava a casa cheia. Mickey sempre fora um ótimo comediante. Todos riram. Elizabeth os abençoou. Mas, havia um pequeno problema: o contrato de ambos os impedia de casar sem a autorização do todo poderoso Louis B. Mayer, dono da MGM.
Louis não queria aquele casamento. O que, sua maior estrela, sua maior renda, o queridinho das garotas casando com uma... qual era mesmo o nome daquela garota?
Uma tática de Mayer era chorar muito — ele tinha a mania de achar que todos seus funcionários eram filhos e ele o papai. E chorou muito mesmo, no intuito de convencer Rooney. Mas, conforme Ava, seu futuro esposo era um chorão melhor. De modo que, papai Mayer aceitou, mas, o casamento foi digamos, “às escondidas”.
Ava esperava o casamento dos seus sonhos, conforme escreveu “queria um marido que chegasse em casa depois do trabalho, ao qual esperasse que eu tivesse feito a janta, lavado à roupa, que quisesse filhos, etc e tal”.
Ela queria vivenciar um casamento tão perfeito quanto fora dos seus pais. Só que Mickey era viciado em jogos de azar, gostava de golfe e tinha uma “leve” queda à infidelidade.
Foram tantas as brigas e infidelidades, que no dia 21 de maio de 1943 ela pediu o divórcio.
Em sua biografia (Minha História, Editora L&PM), Gardner declara:
     “Embora as pessoas tenham especulado que ser casada com Mickey poderá ter me ajudado a conseguir minha primeira série de pontas nos filmes, a verdade nua e crua é que ser Mrs. Rooney não me empurrou para o estrelato. Mickey jamais tentou me transformar em atriz, nunca me ensinou nada e jamais conseguiu um emprego de atriz para mim”.
Todavia, Rooney lhe apresentou grandes figuras do cinema tais como Lana Turner, Judy Garland, Ester Willians, Kathryn Grayson, Elizabeth Taylor e Peter Lawford — que por muitos anos foi seu grande amigo.

Os Primeiros Trabalhos Na Grande Tela

We Were Dacing (Tu És A Única, 1942), é um marco do cinema — não por suas qualidades —, mas, por ser o último filme de Norma Shearer — indicada cinco vezes ao Oscar — e, ser o primeiro filme a ter Ava realmente aparecendo por alguns segundos: enquanto caminha num saguão do hotel.
No mesmo ano, ela interpreta uma secretária em um episódio da série Dr. Gillespie — estrelado por Lionel Barrymore.
Barrymore há muito estava doente — ficava boa parte do dia sentado em uma cadeira de rodas — e, como Clark Gable, ia embora às cinco horas da tarde.
Para Gardner, aquela seria sua grande chance, visto ter uma fala no filme. Diria sete palavras — suas primeiras palavras no cinema — a saber: “Dr. Gillespie, o próximo paciente já chegou”.
A futura diva estava nervosa. Ora, teria de falar seu texto para ninguém, visto Lionel ter ido embora. Foi quando o mesmo surgiu diante de si em sua cadeira de rodas. Alguém disse então ao velho ator: “Sr. Barrymore, já passa das cinco. Creio que o senhor já deveria estar a caminho de casa”. Ele apenas respondeu: “E deixar esta jovem sem ninguém para olhar, ninguém para quem dar o seu texto? Claro que não. Isto não seria gentil”.
Meses depois, ela faria outro episódio da série do Dr. Gillespie chamado Three Men in White. Neste Ava era uma beldade bêbada. O filme lhe gerou as primeiras críticas positivas.
Conhece Bela Lugosi em 1943, durante as gravações de Ghosts On The Loose, que segundo a atriz fora um dos únicos filmes do início de carreira que tiveram algum impacto sobre ela.
Ghosts na verdade é um filme horrível, uma comédia enfadonha que foi feita para ser exibido nas famosas duas sessões — você pagava para ver o filme principal e de brinde assistia um segundo. Só que o mesmo, marcaria e muito a vida de Gardner.
Certa noite, em companhia da sua irmã Bappie, as duas caminhavam ao longo de um bairro de Los Angeles, local onde os cinemas somente apresentavam filmes tipo Z. De repente, Bappie fica paralisada e começa a gritar. Ava também. Em um enorme luminoso estava escrito:

Ghosts On The Loose
Com Ava Gardner

A scarlet começava a engatinhar rumo ao sucesso.

 
Por Ricardo Steil

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